Brasil e China reafirmam posição contrária a novas sanções ao Irã
Cláudia Trevisan
O Estado de S. Paulo, 13.02.2010
Brasil e China reafirmaram ontem a posição contrária à aplicação de sanções adicionais ao Irã e concluíram que ainda há espaço para a continuidade de negociações diplomáticas sobre o programa nuclear de Teerã.
O assunto foi discutido em Pequim durante reunião entre o secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, e o ministro de Relações Exteriores da China, Yang Jiechi. O brasileiro esteve na capital chinesa nos últimos dois dias para discutir o relacionamento bilateral e a agenda da visita que o presidente Hu Jintao fará a Brasília, nos dias 15 e 16 de abril.
Houve concordância no sentido de que a aplicação de novas sanções pode ser contraproducente, disse Patriota, em entrevista na Embaixada do Brasil em Pequim. Ainda existe a possibilidade de o Irã aceitar o enriquecimento de urânio a 20% (no exterior), como estava sendo discutido, apesar das recentes manifestações contraditórias do país.
Na quinta-feira, o presidente Mahmoud Ahmadinejad afirmou que o Irã é um Estado nuclear, com capacidade para enriquecer urânio a 80%, suficiente para uso em armas atômicas. O anúncio foi recebido com preocupação pelo chanceler Celso Amorim. Segundo ele, o enriquecimento de urânio a 80% é uma violação do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP).
Patriota ressaltou a posição comum de Brasília e Pequim em defesa dos princípios do TNP, pelo qual o Irã pode desenvolver seu programa para fins pacíficos. A China é um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU que têm poder de veto nas decisões - os demais são EUA, Rússia, França e Grã-Bretanha. Desde janeiro, o Brasil é um dos membros rotativos do órgão.
A concordância em relação à situação iraniana ocorre em um momento de aproximação entre os dois países, fruto, em parte, do que Patriota chamou de reconfiguração da ordem global em consequência da crise financeira que eclodiu em 2008.
Na avaliação do secretário-geral, os países em desenvolvimento emergiram como interlocutores incontornáveis após o abalo sofrido pelo mundo desenvolvido. Para ele, 2009 foi o ponto de inflexão nas relações internacionais, com a emergência do G-20, em substituição ao G-8 como principal organismo de discussão global, e a realização da Conferência do Clima, em Copenhague, na qual os países em desenvolvimento tiveram participação decisiva.
A aproximação coincide também com o aumento da tensão nas relações entre China e EUA, da qual faz parte a resistência de Pequim em impor sanções adicionais ao Irã. Outros pontos de atrito são a venda americana de US$ 6,4 bilhões em armas a Taiwan e a decisão do presidente Barack Obama de receber o dalai-lama na próxima semana.
Patriota ainda identificou um entusiasmo maior em relação aos Brics, bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia e China. A próxima reunião do grupo ocorrerá em Brasília, no dia 16. Patriota ouviu de Yang Jiechi, chanceler chinês, a avaliação de que o bloco amadureceu.
Hu Jintao aproveitará a viagem para fazer uma visita oficial ao Brasil, quando deve assinar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o Plano de Ação Conjunto, que prevê as diretrizes do relacionamento bilateral para o período 2010-2015.
Na quinta-feira, Hu e Lula conversaram por telefone sobre o encontro. Segundo Patriota, eles falaram do interesse chinês em participar da licitação para construção do trem de alta velocidade entre Rio e São Paulo e das negociações sobre mudança climática. O Irã não entrou na conversa.
TEMPO AO IRÃ
Antonio Patriota - Secretário-geral do Itamaraty
Houve concordância no sentido de que a aplicação de novas sanções pode ser contraproducente
Ainda existe a possibilidade de o Irã aceitar o enriquecimento de urânio a 20% (no exterior), como estava sendo discutido, apesar das recentes manifestações contraditórias do país
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