Reajuste salarial pode pressionar inflação na China
Geoff Dyer e Tom Mitchell, de Pequim e Hong Kong
Financial Times, 09/02/2010
A decisão da província que é a segunda maior exportadora na China de elevar o salário mínimo aumentou a expectativa de que outras províncias e cidades em breve farão o mesmo, no momento em que a atenção do governo central está mudando de estímulo econômico para alta da inflação.
A província oriental de Jiangsu, que exporta mais que Brasil e África do Sul juntos, elevou na semana passada o salário mensal em 13%, para 960 yuans (US$ 140). É o primeiro reajuste em dois anos.
A possível rodada de aumentos do salário mínimo ocorre em meio a sinais de maior pressão inflacionária na economia chinesa, após a rápida recuperação no segundo semestre de 2009, alimentada por um enorme pacote de estímulo do governo. Autoridades estão debatendo se deveriam abrandar o ritmo de novos empréstimos e começar a apreciar a moeda para atenuar a expectativa inflacionária.
"Isso pode ser um alerta vermelho sobre inflação nos salários", diz Arthur Kroeber, editor do "China Economic Quarterly". "A inflação na China está se tornando sistêmica devido à alta salarial causada por um mercado de trabalho onde já falta mão-de-obra."
No rescaldo da crise financeira mundial do ano passado, os governos locais relutam em aumentar os salários e colocar pressão adicional sobre fábricas já em dificuldades. Mas agora que as autoridades estão confiantes de que pior já passou para o setor exportador chinês, estão mais dispostas a atender a reivindicações trabalhistas.
"A economia está acelerando de novo", disse Geoffrey Crothall, da sede da China Labour Bulletin, em Hong Kong. "A inflação e o custo de vida básico estão aumentando. É do interesse dos governos locais fazer algumas acomodações."
O ajuste em Jiangsu do altamente simbólico salário mínimo reflete ainda a crescente concorrência entre diferentes regiões para atrair trabalhadores migrantes, após o feriado de Ano Novo chinês, na próxima semana. A vizinha Xangai deverá elevar seu salário mínimo em dois dígitos em 1 de abril.
Pequim e cidades na província de Guangdong, maior exportadora do país, estão ponderando se farão ajustes. Deputados de Guangdong chegaram a sugerir uma indexação do salário mínimo ao índice de preços ao consumidor.
O IPC anual subiu de 0,7%, em novembro, para 1,9% em dezembro, o que alguns economistas acreditam ser o início de um aumento generalizado da inflação. Mas outros veem o salto como resultado temporário do inverno rigoroso sobre os preços de produtos agrícolas e acham que a inflação em janeiro, a ser anunciada nesta semana, será mais baixa.
Estima-se que 20 milhões de migrantes ficaram sem emprego em 2009 após o maior feriado do país, pois varejistas no exterior cortaram estoques e fábricas chinesas fecharam. Mas, com o retomada das encomendas, no segundo semestre, autoridades locais passaram a ver sinais de "escassez" de mão de obra.
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