Para FMI, recuperação dependerá da China
Rolf Kuntz
O Estado de S. Paulo, Sexta-feira, 2 de outubro de 2009
A recuperação global só será sustentável se a China e outros países superavitários importarem mais dos Estados Unidos, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). A economia mundial deverá crescer 3,5% em 2010, de acordo com as novas projeções, mas o impulso poderá acabar, se duas novas condições de equilíbrio não forem alcançadas, advertiu ontem o economista-chefe da instituição, Olivier Blanchard.
A reação da economia depende, por enquanto, em muitos países, do aumento dos gastos públicos e da redução de impostos. Mas os governos terão de cortar os incentivos, em algum momento, e então será preciso mudar o motor do crescimento, com mais consumo privado e mais investimento das empresas. Essa é a primeira condição.
Mas a mudança será difícil nos Estados Unidos e em mais algumas economias do mundo rico. Depois da crise, as famílias tenderão a consumir mais moderadamente. Quanto às empresas, terão pouco incentivo para voltar logo a investir em equipamentos e instalações, porque ainda haverá muita capacidade ociosa. Neste momento, a reativação dos negócios é em boa parte alimentada pela recomposição de estoques, mas esse movimento deverá esgotar-se breve.
Se o governo americano reduzir seus gastos e cortar os incentivos fiscais, a economia dos Estados Unidos dependerá mais das exportações para crescer. Em consequência, alguns países emergentes terão de fazer o oposto, mudar da demanda externa para a demanda interna, disse Blanchard. É a condição número dois.
Parte da mudança poderá ocorrer naturalmente, por meio de ajustes do câmbio. Mas provavelmente serão necessárias mais políticas ativas, destinadas, por exemplo, a aumentar a segurança social, diminuir a poupança e aumentar o consumo na China, acrescentou.
Nossas projeções são baseadas na hipótese de um reequilíbrio global limitado, com uma consequente recuperação fraca, especialmente nos países avançados, explicou Blanchard, acentuando a advertência contida na edição de outubro do Panorama Econômico Mundial preparada por seu departamento.
Para cumprir sua agenda, os governos precisam, em primeiro lugar, achar o momento certo para reequilibrar as contas e preparar suas estratégia de saída, isto é, de abandono das atuais políticas. Por enquanto, devem manter os incentivos, porque a recuperação econômica está no começo. Mas terão de pensar na mudança de rumo, porque em 2014 a dívida pública nas economias avançadas deverá alcançar 110% do Produto Interno Bruto (PIB), explicou Blanchard. Neste ano, equivale a cerca de 90%. Será preciso cuidar também dos custos crescentes da assistência à saúde e da previdência, por causa do envelhecimento da população.
O segundo requisito é a coordenação de políticas, necessária para o reequilíbrio da economia global. Caberá ao FMI avaliar se as políticas adotadas pelos diferentes países serão mutuamente compatíveis e suficientes para um crescimento equilibrado, lembrou Blanchard, citando a recomendação aprovada na conferência de cúpula do Grupo dos 20 (G-20), na semana passada, em Pittsburgh.
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