Sunday, December 27, 2009

136) A China em 1921, por um diplomata brasileiro


A matéria abaixo, retirada de um jornal brasileiro (na verdade carioca) não identificado, com data de 4 de abril de 1921, foi retirada dos arquivos de Maria José Pinheiro de Vasconcellos, a primeira mulher a ingressar na carreira diplomática (em 1918, e que figura na foto, atrás de uma criança), conservados pela sua família e descendentes, e gentilmente cedida pela pesquisadora e graduanda em Direito do Rio de Janeiro Glauciane Carvalho de Oliveira, que me fez o favor de remeter a matéria, sabedora de meu interesse pela China.
Transcrevo aqui a matéria escrita (na ortografia original), com a reprodução da foto acima.

A Republica Chineza vista por um diplomata
O progresso do ex-Celeste Imperio

A grande fome do nordeste
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Palavras do Dr. Salgado Santos

Encontra-se presentemente nesta capital, vindo pelo "Deseado", o joven diplomata brazileiro Dr. Labianno Salgado dos Santos, até ha pouco secretario da nossa legação em Pekim, de onde acaba de ser removido para a de Buenos Aires.
O Dr. Salgado dos Santos, que teve carinhosa recepção por parte de seus muitos amigos, vem da grande Republica Chineza, o paiz original de Confucio, que ao mesmo tempo com os progressos ultimamente obtidos, está se tornando um grande centro de produção e de consumo.
Por isso mesmo, procuramos ouvir o distincto diplomata patricio, que promptamente accedeu ao nosso desejo, manifestando as suas impressões sobre a imensa Republica Oriental.
O Dr. Labianno, depois de historiar a sua viagem de Pekim a MArselha, no que gastou cerca de dois mezes e meio, fala-nos da China:
-- Como sabe, o progresso da China, vem se salientando ha cerca de 40 annos. Com a Republica o seu adeantamento tem-se tornado maior. O povo chinez é trabalhador e honesto, possuindo uma certa dose de energia notavel. Pekim é a cidade das tradições, é a cidade santa e querida dos chinezes; Shanghai é o porto commercial, possuindo um desenvolvimento de commercio só comparavel aos portos de Santos e Rio de Janeiro reunidos. As nossas relações commerciaes só se poderiam desenvolver com grandes vantagens para ambas as nações se houvesse uma carreira de vapores entre o nosso e aquelle paiz. Assim o nosso café poderia ser lá colocado, depois de feita, está claro, alguma propaganda. O nosso algodnao tambem poderia ter facil aceitação.
Como é sabido, a China possue mais ou menos os mesmos productos que o Brazil, embora com deficiência em alguns.
As nossas madeiras, por exemplo, poderiam tambem obter magnifica collocação.
No tempo em que estive como Encarregado de Negocios dei a melhor das minhas actividades para que o nosso paiz se tornasse cada vez mais conhecido, quer procurando constantemente os membros mais proeminentes do governo, quer frequentando a sociedade intellectual da China.
-- E o que nos diz sobre a fome que assola os chineses e de que nos falaram ultimamente os telegrammas?
-- Fome só ha no norte da China, e o motivo principal da falta de alimentação foi a secca do anno passado. Não tendo chovido no verão, não houve quasi colheita no nordeste do paiz.
Isso, entretanto, não tem importancia, não constiuindo nenhum impecilho para o desenvolvimento da grande nação, que, ora dispõe dos meios necessarios para fazer desapparecer todas as dificuldades, pequenas ou grandes, que venham prejudicar os altos interesses do paiz.
O Dr. Labianno Salgado dos Santos, encerrando a sua palestra, nos fala, com enthusiasmo, do futuro da China e do immenso desejo de que se acha possuido o povo chinez, de muito fazer pelo desenvolvimento do seu paiz, affirmando que são muito boas e que cada vez mais se estreitam as relações de amizade que sempre existiram entre o Brazil e a grande Republica do Oriente.

(p. 3)

Com meus agradecimentos, pelo envio desta matéria, a Glauciane Carvalho de Oliveira.

1 comment:

  1. Querido mestre, nós alunos é que agradecemos pela existência deste espaço. Pois muitos de nós utilizamos diariamente seus comentários e postagens para melhorarmos o nosso aprendizado e "treinamento", mas principalmente, percepção da realidade rumo à carreira diplomática. Se o senhor faz isso, sem nada esperar de nós, nada mais justo que possamos retribuir sua dedicação, de alguma forma. Isso se torna um ciclo permanente das gerações vindouras de diplomatas, pesquisadores e estudantes.
    Nós, é que agradecemos tamanha dedicação que o senhor tem diariamente e, também, pela criação de mais um ponto de encontro, agora, com foco na China.
    Como seria bom, se outros embaixadores saíssem da órbita de seus gabinetes e ar-condicionados e tomassem a iniciativa de fazer o que senhor faz. Certamente, o conhecimento seria mais propagado, mas infelizmente, nem todos são visionários.
    Parabéns por mais este espaço, que revela o tipo de mestre e de educadores que este país precisa...

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