Investimento chinês exclui o Brasil
Paula Puliti
O Estado de S. Paulo, 27.11.2009
A China tem surpreendido o mundo com o salto de seus investimentos produtivos no exterior. Mas o Brasil parece fora desse movimento. A relação bilateral tem de fato se intensificado, só que, basicamente, no âmbito comercial. Enquanto os chineses absorvem cerca de 10% das exportações brasileiras, puxadas por soja e minério de ferro, o investimento direto em solo nacional é exíguo, apesar dos esforços de aproximação.
Hoje, chega ao Brasil uma missão de 350 empresas chinesas de diversos setores, das quais 125 são potenciais investidoras tanto no setor produtivo quanto no financeiro, segundo a Apex, a agência oficial de promoção de exportações e investimentos. Entre elas estão a Beiqi Foton Motor (automóveis), Datang Capital (tecnologia da informação), Sinochem Group (petróleo) e o Agricultural Bank of China e Bank of Communications of Shanghai.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as vendas para a Ásia (leia-se China) aumentaram 4,2% de janeiro a setembro deste ano, colocando a região na primeira posição de mercado comprador, superando a União Europeia (UE). Em 2008, a China comprou US$ 16,4 bilhões do Brasil.
Já em investimento direto, os últimos dados disponíveis do Banco Central mostram que a posição de estoque da China no Brasil não passava de US$ 238,7 milhões até abril, segundo levantamento do economista Luís Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica.
O valor real, na verdade, é uma incógnita, já que muitos dos recursos chineses que ingressam no Brasil podem vir por meio de terceiros países. Mas, mesmo que seja o dobro do que registra o BC, o valor é irrisório, para o secretário executivo do Conselho Empresarial Brasil-China, Rodrigo Maciel. Apesar de ser relativamente nova no cenário, a China já tem perfil de investidor mundial.
Em 2008, a China respondeu por 2,8% dos fluxos globais de investimentos diretos produtivos, que corresponde a US$ 52 bilhões, mais que o dobro do de 2007, segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad). O Brasil recebeu menos de US$ 38 milhões.
Segundo Lima, o IED chinês ainda se concentra na Coreia do Sul, no Japão e Vietnã. Fora da Ásia, o foco é a África. A China quer matérias primas para sustentar seu crescimento.
O dado exato é difícil de obter, concorda Márcia Nejaim, gerente-geral de Investimentos da Apex. O que sabemos é que os investimentos no Brasil são pequenos, quando se compara com outros países.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou a China mais de uma vez, assim como o presidente Hu Jintao veio ao Brasil. Mas quase nada se reverteu em investimento produtivo.
Uma exceção foi a Petrobrás, que em outubro obteve um empréstimo de US$ 10 bilhões do China Development Bank. Também fez acordo com a Sinopec, gigante chinesa do petróleo, para cooperação nas áreas de exploração, refino, petroquímica e suprimento de bens e serviços para a indústria do petróleo.
O empresário Eike Batista também está prestes a acertar sociedade entre a Wuhan Iron & Steel e a MMX Mineração e Metálicos.
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