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Wednesday, November 25, 2009
110) A poupança dos chineses
A poupança dos chineses
Revista Época, 25/11/09
A China vem se tornando uma potência econômica mundial. De fato, nos últimos 25 anos, o crescimento da sua economia tem sido impressionante, na casa dos 7% ao ano (por habitante). A China já é provavelmente o segundo PIB mundial e tem aumentado constantemente sua participação no comércio internacional. Mas apesar disso, viver na China, pelo menos no presente, não deve ser lá muito agradável. Não apenas pela falta de liberdades, mas também pelo fato de que os chineses, ainda muito pobres (a renda por habitante ainda é cerca de metade da brasileira), poupam mais de metade de sua renda! Qual a graça de consumir tão pouco?
Essa tremenda poupança, é fato, facilita o crescimento via acumulação de capital. E quando a economia ainda se encontra em estágios prematuros de desenvolvimento, essa é a via mais natural de expansão do PIB. Mas o investimento, em estonteantes 40% do PIB, ainda consegue ser menor que a poupança doméstica total. Com as sobras, os chineses vão financiando o consumo dos outros — principalmente dos norte-americanos (essa é a lógica do tal Bretton Woods II).
Pergunta que não quer calar: por que os chineses poupam tanto, e por que sua taxa de poupança vem crescendo na última década?
Boa parte da explicação vem do comportamento da poupança das empresas. Essa, segundo o especialista em China do UBS, Jonhatan Andersen, cresceu de 16% para algo como 26% do PIB nos últimos cinco anos. O motivo por trás dessa expressiva variação foi a arrancada da rentabilidade das empresas chinesas, que vêm ganhando espaço no mercado internacional de bens e serviços.
Completando o quadro, as famílias na China poupam violentamente, mais ou menos 30% do PIB (no Brasil, a poupança das famílias é próxima a 5%). Motivos culturais podem sempre estar por trás da explicação dos altos níveis de poupança, mas não são boa fonte de explicação para variação da taxa de poupança. Afinal de contas, aspectos culturais não mudam tão rapidamente. E a variação tem sido grande: em 1980 a poupança era de 15% do PIB, no ano 2000, 25% e em 2007, 30%.
A tese de que a poupança das famílias chinesas é alta por conta da falta de uma rede de proteção social ampla também esbarra na dificuldade de explicar o motivo da variação ao longo do tempo. A dificuldade se deve ao fato de os sistemas de pensões e assitência médica terem melhorado bem ao longo dos últimos 10 anos – a poupança das famílias, portanto, deveria ter retrocedido um pouco, e não aumentado.
No artigo “The Competitive Saving Motive: Evidence from Rising Sex Ratios and Savings in China“, Shang-Jin Wei e Xiabo Zhang apresentam uma explicação alternativa interessante. Segundo eles, a poupança das famílias tem aumentado por conta de um crescente desequilíbrio no que se denomina ”sex ratio” – a razão entre o nascimento de meninos e meninas. Essa razão saltou, principalmente devido à política de filho único, de 106 meninos para 100 meninas em 1980, para 124 meninos para 100 meninas em 2007 (como é possível? efeito colateral do ultrassom). Ok, mas o que isso tem a ver com poupança?
Ora, por conta desse desequilíbrio crescente, o mercado de casamentos para as gerações mais novas tornou-se muito mais competitivo para os meninos (homens adultos no futuro próximo). E para incrementar as chances dos filhos, nada mais natural que dotá-los com recursos mais gordos, cortando consumo presente e aumentando a poupança. Em linha com esse raciocínio, os autores apresentam evidências econométricas mostrando que a poupança individual das famílias é mais alta justamente nos locais onde o sex ratio é mais desproporcional — isso já isolando o efeito de outras variáveis que supostamente afetam a taxa de poupança, como renda, estabilidade do emprego, etc.
Mas o aumento da poupança das famílias com mais meninos (ou um só menino) não seria compensado por uma queda da poupança das famílias com mais meninas (ou uma só menina)? Isso não se verifica nos dados, como mostram os pesquisadores. A explicação por eles aventada é que, como essa maior poupança dos pais com filhos homens é fortemente canalizada para compra de imóveis, os preços desses se elevam, forçando as famílias com meninas a, tudo o mais constante, pouparem mais para adquirirem suas moradias. Liquidamente, por conta do incentivo a despoupar devido à vantagem das meninas no mercado matrimonial, o que acontece é que a poupança das famílias com meninas quase não se altera.
Viver na China não deve ser nada fácil, principalmente para os rapazes que brevemente enfrentarão belas dificuldades no mercado matrimonial.
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