Com retorno da inflação, Pequim deve subir juros e valorizar um pouco o iuan
Financial Times
Valor Econômico, 16.03.2010
A China está de volta à situação anterior ao colapso do Lehman Brothers. Como no início de 2008, antes que a falência do banco americano desencadeasse a crise financeira mundial, há agora o temor de que a economia chinesa esteja crescendo rápido demais. O crédito está expandindo rapidamente, há sinais de bolhas de ativos por toda parte e uma inflação dos preços ao consumidor está ameaçando afetar as pessoas comuns.
Números recentes mostram que em fevereiro os preços ao consumidor subiram 2,7% em relação ao ano anterior, perto da meta oficial de 3%. Dado o enorme aumento da oferta monetária no ano passado, há riscos de que a inflação escape de controle. Pensar de outra forma equivaleria a argumentar que os fundamentos da economia chinesa continuam fragilizados. É verdade que há dúvidas sobre como a economia andaria sem o estímulo do governo. Mas a produção industrial parece robusta - com alta de 20% tanto em janeiro como em fevereiro. Além disso, há poucos sinais de oferta excessiva da indústria. Longe disso: em fevereiro, os preços das fábricas subiram 5,4%. O premiê chinês, Wen Jiabao, admitiu no domingo que a inflação é uma ameaça à estabilidade social.
É justo reconhecer que as autoridades chinesas têm frequentemente sido mais hábeis do que as ocidentais em seu esforço para equilibrar o crescimento com controle de preços. Neste ano, as autoridades já elevaram por duas vezes o compulsório dos bancos e aumentaram o valor da entrada exigida nas compras de terrenos, para frear a construção. Mas esse tipo de ajuste improvisado, embora às vezes eficaz, pode já não ser suficientes. Uma das razões é que o dinheiro do plano de estímulo está vazando para a economia. Há muita liquidez em busca de poucos ativos. De uma perspectiva mais estrutural, parece que a aparentemente interminável oferta de mão de obra jovem e barata na China está chegando ao fim. A população chinesa começará a envelhecer a partir de 2015. Fábricas em lugares como Guangdong estão brigando para atrair trabalhadores. O resultado é inflação de salários.
O que Pequim pode fazer? Uma opção é aumentar as taxas de juro. Uma aposta cada vez mais segura é de que o banco central elevará um pouco as taxas antes do fim do segundo trimestre. A outra opção é deixar o iuan voltar a valorizar, após uma pausa de 20 meses. Wen disse no domingo que as cobranças de outros países para que a China valorize sua moeda têm intenções protecionistas. Mas a China não precisa elevar seu câmbio para agradar Washington. Deveria fazê-lo para avançar rumo a seus próprios objetivos declarados: estimular seu consumo e sua economia doméstica. Uma valorização, embora não seja uma panaceia, também ajudaria a combater a inflação, ao baratear as importações. É de interesse da própria China iniciar uma valorização modesta. O despertar inflacionário constitui a desculpa perfeita.
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