Obama sob pressão para declarar que China controla iuan
Alex Ribeiro, de Washington
Valor Econômico, 15/03/2010
O governo Obama sofre pressão política crescente para declarar que a China manipula a cotação de sua moeda, o iuan, para turbinar suas exportações. Dentro de um mês, o Departamento do Tesouro vai enviar ao Congresso a sua lista semestral de países que usam artifícios para enfraquecer sua taxa de câmbio, um primeiro passo para os americanos tomarem medidas mais drásticas contra práticas que consideram desleais. "Não quero transmitir a impressão de que sou um fã do [ex-presidente] Ronald Reagan, mas a administração Obama deveria fazer o mesmo que Reagan fez com o Japão", disse em um seminário na sexta-feira o sindicalista Leo W. Gerard, do poderoso USW, que representa os metalúrgicos americanos.
Reagan conseguiu fazer o Japão valorizar a sua moeda em 1985 nos Acordos do Plaza, assim chamados porque a reunião que selou os entendimentos ocorreu no Hotel Plaza, de Nova York. Na época, os japoneses cederam depois de o Congresso aprovar uma sobretaxa aos produtos do país.
Cálculos de dois economistas do Instituto Peterson, um influente centro de estudos de Washington, mostram que a moeda chinesa está 40% subvalorizada em relação ao dólar. Segundo o mesmo estudo, o real brasileiro se encontra valorizado em 15,4%, tomando como base as cotações de dezembro, quando o dólar oscilava em torno de R$ 1,74, não muito distante da cotação atual de R$ 1,76.
O economista Paul Krugman, Prêmio Nobel, acha que até uns cinco anos atrás ainda havia alguma justificativa para os Estados Unidos não reagirem à moeda chinesa. "Ela significava produtos mais baratos, fluxos de capital e juros menores", disse na sexta-feira, em seminário organizado pelo Instituto de Política Econômica, um centro de estudos de Washington. Hoje, ponderou, a demanda nos Estados Unidos cresce abaixo da oferta, e as importações chinesas fazem a economia rodar ainda mais abaixo da sua capacidade.
Ele calcula que, em virtude do câmbio desvalorizado chinês, a economia americana perca algo como 1,5% de seu crescimento. "Não temos nenhum benefício com o déficit comercial com a China. Não deveríamos ter medo de pressioná-los a suspender a manipulação do câmbio." O mercado, porém, receia que a eventual valorização do iuan leve à queda do financiamento da dúvida pública dos Estados Unidos, o que faria os juros subirem. O déficit comercial americano é bancado com capitais chineses, dirigidos sobretudo à compra de títulos do Tesouro.
Krugman argumentou que, de um ano e meio para cá, a China já deixou de comprar dívida americana de longo prazo, mas não houve efeito significativo na curva de juros do Tesouro. Pela mais recente estatística, a China entregou para o Japão o título de maior detentor de papéis americanos.
Do ponto de vista prático, uma eventual declaração pelo Tesouro de que a China manipula sua moeda obrigaria o governo americano a abrir uma negociação entre os dois países para resolver o problema. O Tesouro seria obrigado a prestar contas de suas negociações com a China ao Congresso.
Há cerca de dez dias, a China deu indicações de que poderia valorizar a moeda. Alguns analistas creem que isso seria conveniente para o país lidar com suas pressões inflacionárias. Ontem, no entanto, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, rechaçou a avaliação de que o iuan está subvalorizado. Segundo ele, a China se opõe a que os "países comecem a se acusar mutuamente ou tomem medidas fortes para forçar outras nações a valorizar as suas moedas". Jiabao criticou os países que depreciam a própria moeda e tentam pressionar os outros a apreciá-las, para aumentar as exportações. "Na minha visão, isso é protecionismo", disse ele, fim da sessão do Congresso Nacional do Povo. Ele acrescentou que a China segue "muito preocupada" com a segurança de seus investimentos em dólar.
O economista Fred Bergsten, do Instituto Peterson, disse que tentativas para persuadir os chineses por meio de diálogo fracassaram, assim como os esforços feitos por organismos multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional. "Os EUA deveriam impor uma tarifa de 25% sobre os países que manipulam suas moedas", disse, no mesmo seminário. Para ele, o governo deveria ser pressionado a agir por uma decisão do Congresso, numa reprodução do modelo dos Acordos do Plaza. "Não gosto, mas não vejo outra alternativa senão impor uma tarifa temporária sobre a China", afirmou Krugman.
O ambiente econômico mundial hoje é bem diferente do que existia na década de 1980. Em tese, a China tem mais instrumentos disponíveis para reagir, como reclamar na Organização Mundial do Comércio (OMC). Bergsten ponderou, porém, que a solução da controvérsia pela OMC seria demorada, e a tendência seria os chineses sentarem para negociar.
(Com agências internacionais)
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