O texto abaixo, que reune algumas reflexões pessoais a caminho de Shanghai, foi escrito, como indicado, a caminho da cidade, ainda no vôo da Air France que me levou da capital francesa à metrópole chinesa (não a maior cidade, como me explicaram, depois).
Eu pensava publicá-lo neste blog imediatamente após o meu desembarque, ao conectar-me no hotel pela primeira vez. Em vez disso, tive uma surpresa: não conseguia acesso a nenhum de meus blogs, tampouco a vários outros sites, como relatei no post 112 (vide abaixo), "Confrontando a muralha da China, literalmente...".
Pois bem, já de volta a Brasília, e colocando em ordem todos os meus escritos desde o final de novembro e compatibilizando os arquivos do laptop com os do desktop, e tentando não perder nenhum, encontro, finalmente, esse texto um pouco ingênuo que compila algumas idéias preliminares ao meu desembarque. Tentarei, proximamente, compilar também minhas reflexões ex-post, ou seja, pós-visita à China, o que compreende Shanghai e Beijing (sorry, prefiro essas fórmulas mais universais à transliteração brasileira, que encontro inadequadas).
Farei assim que encontre tempo nos meus afazeres profissionais, acadêmicos e pessoais (ainda tenho dois ou três textos para terminar antes disso).
Por enquanto, fiquem com essas breves observações ex-ante...
(Brasília, 14.12.2009)
Carta de Shanghai, 2:
Em Shanghai, pela primeira vez…
Paulo Roberto de Almeida
(escrito em vôo: Paris-Shanghai, 29.11.2009)
O que se faz quando se visita uma cidade pela primeira vez? Obviamente, munir-se, com a antecedência adequada, de guias turísticos, mapas e outras informações úteis à estada na cidade em questão.
Foi o que fiz, parcialmente, em relação a Shanghai. Eu já tinha comprado, em Paris, em minha estada do final de setembro, um guia Lonely Planet da China, que possui um bom capítulo sobre Shanghai (eventualmente complementado, para outras informações atualizadas, por uma visita ao seu site).
E o que se faz quando, além de não conhecer a cidade, não se tem o mínimo conhecimento da língua do país (no caso da região) em questão? Bem, é o caso de se apelar para guias lingüísticos e outros livros de viagem que permitam contornar, de maneira muito deficiente, é verdade, essa quase intransponível barreira da língua. Ainda não me julgo habilitado a fazê-lo, inclusive porque o livrinho que trago comigo traz frases elementares, mas nada diz sobre a pronúncia, que dizem ser importante no caso chinês (e seus vários dialetos).
Conclusão: sou um completo ignorante de Shanghai e não acho que me tornarei um connnaisseur nos próximos quatro dias que passarei na cidade (ainda mais num hotel internacional como o Portman Ritz Carlton, uma das torres famosas da cidade, listada no Shanghai Wallpaper City Guide. Assim, tentarei, com a ajuda do nosso Consulado – cujo cônsul, Embaixador Marcos Caramuru de Paiva, acabo de encontrar no mesmo vôo em que estou – aprender um pouco mais sobre a cidade e a China, o que sempre será insuficiente e a todos os títulos parcial, cela va de soi.
Sou um devorador de mapas, e um nômade compulsivo e incorrigível, assim que não tenho nenhuma restrição em alugar um carro e percorrer a cidade a esmo, ou guiado por um GPS, mas creio que, por necessidade de trabalho, terei de renunciar a esses prazeres turísticos e me ater à programação preparada pela Apex para nossa estada em Shanghai: reuniões de coordenação, encontro com os burocratas chineses, jantar com os outros comissários latinos em Shanghai Expo – sim, esqueci de dizer que estou sendo designado comissário brasileiro à Exposição Universal de Shanghai 2010, que se realiza de 1o. de maio a 31 de outubro de 2010 – enfim, um monte de encontros programados que provavelmente não comporiam o meu programa pessoal de first acquaintance with Shanghai. Rendo-me ao programa oficial, mas vou procurar conhecer a cidade como um cidadão do mundo, não como um turista ocasional, o que compreende museus e também locais para se viver, posto que aqui estarei entre abril e novembro de 2010.
Se existe uma coisa pela qual sou fanático é aventura, desbravar estradas e cidades desconhecidas, seguir mapas sem sequer ter a menor idéia do que vem pela frente, arriscar-me em pistas pouco usuais, confrontar-me à amplidão das estradas e dos desertos, encontrar uma placa, qualquer placa, que indique um destino superior a 2.000 kms, nomes desconhecidos, promessas imaginárias, enfim, qualquer coisa que fuja ao habitual costumeiro, que me coloque em encruzilhadas indevassadas, lugares incógnitos, coisas nunca dantes percorridas, a completa incerteza. Bem, confesso que Carmen Licia não me deixa fazer essas loucuras – como, por exemplo, atravessar o deserto do Atacama no carro vagabundo que é o nosso – mas não deixo de registrar o meu desejo de fazer essas coisas pouco convencionais (talvez eu deva comprar um desses carros mais bem equipados, um jipão poderoso, para enfrentar aventuras, mas ainda assim, creio que Carmen Lícia, sempre dotada de bom senso, barraria essas loucuras sem tamanho que mantenho presentes, como se eu ainda tivesse 19 anos). Mas, vou fazer um dia, se é que me acreditam.
Bem voltando a Shanghai, talvez eu devesse corrigir o título desta carta, pois ainda não estou em Shanghai, e sim no vôo para Shanghai, sem a menor idéia de como será minha estada naquela cidade enorme, numa conurbação de mais de 18 milhões de habitantes, com uma grande população estrangeira e milhões de chineses “flutuantes” (que imagino sejam todos aqueles camponeses emigrados que vivem de trabalhar na construção civil, sem residência fixa e sem muito planejamento).
Mesmo sem conhecer absolutamente nada da cidade, arrisco aqui alguns palpites, antes de desembarcar: Shanghai é uma cidade vibrante, apenas atrás de New York em número de arranha-céus, milhões de shoppings, milhares de restaurantes de todos os tipos – desde os mais sofisticados até aqueles que apenas chineses do interior freqüentariam – com todos os serviços possíveis e imagináveis e, se calhar, com todas as ofertas do capitalismo avançado (ou seja, onde você pode encontrar o DVD do último filme de Hollywood antes que ele seja sequer lançado nos EUA e esteja nas ruas e lojas de New York). Sem ter ainda desembarcado na cidade, arrisco dizer que ela é muito mais capitalista e competitiva do que São Paulo, muito mais sofisticada que a maior parte das capitais européias, e provavelmente mais sórdida (em suas imensas periferias) do que algumas cidades do Terceiro Mundo. Enfim, uma cidade que merece esse nome, e por isso desejo conhecê-la bem, se for possível melhor do que São Paulo ou Brasília.
Meu primeiro contato com Shanghai será necessariamente superficial e insuficiente, mas espero ter uma idéia do que é a cidade, e de como ela funciona, nos próximos quatro dias, preparando uma nova estada preliminar em janeiro ou fevereiro, antes do deslocamento definitivo em final de março ou começo de abril, quando ela será a “minha cidade”. Tenho as melhores expectativas sobre esse séjour temporário, que aliás deve ser cumprindo apenas parcialmente na cidade, posto que pretendo viajar muito durante essa estada em Shanghai.
Bem, depois de três copos de vinho, e um de conhaque, creio que preciso dormir, para enfrentar um dia de trabalho na grande cidade chinesa. Sou grato a todos os guias que me auxiliaram na tarefa de tentar conhecer um pouco melhor a cidade e suas peculiaridades. Ainda preciso fazer uma visita ao Embaixador José Oswaldo de Meira Penna, que esteve em Shanghai por duas vezes antes da implantação do regime comunista na China, o que tenciono fazer desde minha volta a Brasília. Até lá, vou coletar minhas impressões que serão aqui postadas, como faço com os mais diversos matérias que vou compondo.
Vale!
Paris-Shanghai, 29 novembro 2009.
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