Obama leva agenda global à China
Cláudia Trevisan, PEQUIM
O Estado de S.Paulo, 21.11.2009
Relação entre Washington e Pequim supera 'estágio bilateral' e agora é chave para solução de questões mundiais
A busca de cooperação em temas globais dará o tom da primeira visita à China do presidente americano, Barack Obama, que discutirá com seu colega Hu Jintao questões que não poderão ser resolvidas sem o empenho dos dois países, entre as quais as mais evidentes são a crise econômica mundial e a mudança climática.
"A China não cabe mais em uma relação bilateral. Ela perpassa cada problema doméstico, regional e global com os quais o presidente dos EUA tem de lidar. Essa é uma grande mudança nas relações entre os dois países", diz David Shambaugh, diretor do Programa de Política Chinesa da Universidade George Washington e professor visitante da Academia Chinesa de Ciências Sociais, em Pequim.
A agenda incluirá questões de segurança cruciais para os americanos, como os programas nucleares da Coreia do Norte e do Irã e a situação no Afeganistão e Paquistão, dois países que fazem fronteira com a instável província chinesa de Xinjiang, no extremo oeste.
Líder de uma economia que encolherá 2,4% neste ano, Obama desembarca hoje em uma China que protagoniza a mais espetacular ascensão da história e cujo PIB deverá crescer pelo menos 8% em 2009.
No próximo ano, o país ultrapassará o Japão e assumir o segundo lugar entre as maiores economias do mundo. Ainda assim, seu PIB ainda representará cerca de um terço do americano.
Os dois países construíram nesta década uma relação de dependência que se acentuou ainda mais com a crise disseminada pelo planeta em 2008. São vínculos financeiros, comerciais e de investimentos que deverão ser administrados com cautela no momento em que o mundo começa a se recuperar da mais profunda recessão das últimas sete décadas.
"Os EUA precisam da China mais do que em qualquer outro momento, para recuperar sua economia e estabilizar a situação econômica global", observa Wang Yong, professor da Escola de Estudos Internacionais e diretor do Centro para Política Econômica Internacional da Universidade de Pequim.
Segundo Wang, a China pode ajudar os EUA com a maior abertura de sua economia a investimentos estrangeiros, o aumento da importação de bens e, acima de tudo, a manutenção da compra de títulos do Tesouro Americano.
Na área ambiental, os dois países - os maiores emissores de gases do efeito estufa - são indispensáveis em qualquer acordo global que seja elaborado para combater o problema da mudança climática. O tema terá destaque nos encontros que ocorrem partir de hoje.
"Não teremos nenhum progresso significativo se os dois maiores emissores do mundo não estiverem de alguma foram no mesmo universo nessa questão. Portanto, a cooperação entre os dois países não é uma opção. Ela é necessária se quisermos fazer alguma coisa em relação ao problema", afirmou no dia 6, em Washington, o principal assessor de Obama para a Ásia, Jeffrey Bader.
Os americanos sustentam que não podem se comprometer a reduzir suas emissões se os chineses também não o fizerem. Os chineses respondem com o argumento de que o aquecimento global foi provocado pelos países ricos e as nações em desenvolvimento não podem assumir compromissos que restrinjam de maneira injusta seu crescimento industrial e econômico.
"A China está pronta para avançar nessa questão, mas espera que Estados Unidos e Europa deem o exemplo e comprometam-se com obrigações claramente definidas", ressalta Wang Yong.
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