Monday, March 7, 2011

Brasil-China: dificuldades a frente - OESP

Material sobre a China, para refletir, não sei se existe algo a ser feito, uma vez que a China é quem determina o padrão do relacionamento, não o Brasil.
Paulo Roberto de Almeida

A China se volta para os chineses
Editorial O Estado de S.Paulo,07/03/2011

O novo plano quinquenal de desenvolvimento da China, que foi referendado em outubro pelo Comitê Central do Partido Comunista e deve ser aprovado pelo Congresso Nacional do Povo no encontro anual que começou no sábado, dia 5, em Pequim, imporá uma profunda mudança de rumo na evolução da economia do país, com impactos importantes sobre o resto do mundo.
Este é o 12.º plano quinquenal chinês. Embora as projeções de crescimento neles contidas sejam geralmente subavaliadas e, por isso, desmentidas na prática, esses planos têm tido papel importante na determinação dos caminhos seguidos pela China. O quinto plano quinquenal resultou nas reformas e na abertura da economia no fim da década de 1970. Em meados da década de 1990, o nono plano transformou as estatais em empresas voltadas para a conquista de clientes ao redor do mundo, o que permitiu à China abocanhar fatias cada vez maiores do mercado internacional.
O que está sendo aprovado nestes dias "provavelmente entrará para a história como uma das iniciativas mais ousadas da China", previu o economista Stephen S. Roach, membro do corpo docente da Universidade Yale e atualmente ocupando cargo de direção do Morgan Stanley na Ásia, em artigo reproduzido pelo Estado na quarta-feira.
Serão profundas as mudanças no modelo econômico chinês, que hoje prioriza investimentos em grandes unidades industriais e em exportações. Nos próximos cinco anos, o crescimento chinês se baseará no mercado interno, no consumo e na melhoria da qualidade de vida e da renda dos chineses
As mudanças começaram a ser pensadas há quatro anos, quando o primeiro-ministro Wen Jiabao apontou o paradoxo que vivia a economia chinesa, cujo crescimento vertiginoso encobria inconsistências graves, como a instabilidade do processo, vários desequilíbrios e a sua insustentabilidade. A recessão no mundo industrializado iniciada em 2008, que reduziu a demanda de produtos da China e afetou sua economia, mostrou o lado frágil do modelo vigente. Para reduzir sua dependência do mercado externo, a China agora se volta para os chineses.
Essa será a principal característica do 12.º Plano Quinquenal, que começou a ser elaborado no segundo semestre de 2008, quando os dirigentes chineses fizeram a avaliação dos resultados do plano anterior até aquele momento. Desde então, o governo e o partido ouviram acadêmicos, políticos e um grande número de profissionais. Daí surgiram as grandes linhas, que foram novamente discutidas com diversos colaboradores e por fim submetidas às instâncias decisórias do Partido Comunista e, agora, do Estado chinês.
Para fortalecer o mercado interno, o novo plano prevê a redução da ênfase no setor industrial, que sustentou o crescimento chinês nos últimos 30 anos. Será dada prioridade para outros setores da economia, como comércio varejista e atacadista, logística e serviços de saúde.
São setores menos eficientes do que a indústria, com menor produtividade, que por isso não garantirão o ritmo de crescimento que o país mostrou nos últimos anos. Mas, por proporcionarem maior numero de empregos, permitirão que as cidades recebam mais trabalhadores originários das áreas rurais, assegurando-lhes renda mais alta. Desse modo o governo chinês pretende compensar a redução do ritmo de crescimento, com o aumento mais rápido do emprego e da renda dos trabalhadores - o que terá como resultado adicional a redução da tensão social e política.
Para conseguir um rápido aumento do consumo doméstico, o governo terá de mudar o arraigado hábito de poupança dos chineses, que, sem dispor de um sistema previdenciário confiável, poupam tudo o que podem para garantir a sobrevivência na velhice.
Mudar isso exigirá a construção de um novo sistema previdenciário, público e privado, o que representará um enorme desafio político para o governo.
Se o 12.º plano quinquenal corresponder à expectativa do governo, a China dará um forte impulso nas economias de seus parceiros comerciais. Mas reduzirá seu papel de financiador dos déficits de países como os EUA. Será outra grande mudança.

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O que esperar da visita de Dilma à China
Roberto Barth
OESP, 7/03/2011

Em sua primeira viagem para fora da América Latina, a presidente Dilma Rousseff visitará a China. Tem lógica a escolha, pois hoje os chineses já têm a segunda economia do mundo - rumando para ser a primeira, muito em breve. Por outro lado, é a maior importadora das commodities brasileiras.
A presidente embarca em abril. Na agenda estão previstas reuniões com representantes do empresariado chinês. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirma que serão feitos esforços para reduzir os danos causados pelas importações de produtos chineses no mercado nacional.
Uma das propostas é negociar parcerias para ampliar as exportações de minério de ferro e aço do Brasil para a China. Para isso não haveria a necessidade da viagem dessa comitiva cara, uma vez que os chineses necessitam comprar nossa soja e nosso minério de ferro, entre outras commodities, para alimentar sua enorme população e ter acesso à matéria-prima essencial para seu gigantesco parque industrial. Vale salientar que a população da China teve um ganho enorme de renda e agora passa a demandar mais comida, item escasso num país com pouca área cultivável.
Do mesmo modo, o crescimento de seu parque industrial demanda mais e mais matérias-primas básicas, também indisponíveis naquele país. Ou seja, o Brasil passa a ser uma das alternativas mais viáveis ao abastecimento de commodities à China. Os chineses necessitam comprar aqui, não dependendo de nenhuma viagem para promover nossas vendas.
A outra explicação para essa viagem da presidente e sua comitiva é atender aos apelos do empresariado nacional para evitar que os produtos chineses prejudiquem, ainda mais, o mercado brasileiro, levando à maior desindustrialização.
Mas em 2005 foi exatamente a mesma coisa. O Ministério da Indústria da China convidou o governo brasileiro e representantes dos inúmeros setores industriais nacionais - que já naquela época se sentiam altamente prejudicados pelo surto de importação de produtos chineses - a organizarem uma missão de alto nível a Pequim. Na ocasião, seriam negociadas formas de autorregulamentação, por parte dos chineses, em suas exportações ao Brasil de diversos produtos, como forma de conciliar os interesses comerciais de chineses e brasileiros.
Vários setores industriais brasileiros sentiram-se aliviados e juntaram-se à missão, como forma de resolver esse grave problema. Tinham, com o governo brasileiro, a esperança de conseguir negociar uma solução viável para todos. O governo brasileiro esteve representado, naquela oportunidade, por inúmeros integrantes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), inclusive com a participação do então ministro Luiz Fernando Furlan.
E eu estava lá.
Qual foi a nossa surpresa quando, exaustos, após mais de 40 horas de viagem aérea, fomos surpreendidos logo na primeira reunião com a informação de que o governo chinês não estava disposto a negociar nada. Dizia inclusive nem saber o que estávamos fazendo lá! Ficamos em Pequim por 11 dias, e foram 11 dias sem nenhum avanço no assunto. Fomos muito bem tratados pelos chineses, uma vez que hospitalidade é uma de suas qualidades. Mas negociar aquilo que era nosso propósito, a autorregulamentação das exportações chinesas ao Brasil, nem entrou nas conversas. Voltamos todos, inclusive o próprio ministro, sem que os chineses tivessem sequer ouvido nossas reivindicações.
Agora, com um governo novo, as esperanças de que nossos velhos problemas serão resolvidos se renovam. Todos cheios de vontade de resolver os assuntos pendentes. O ministro Fernando Pimentel, do MDIC, e sua equipe estão trabalhando arduamente para solucionar o problema das importações desleais que causam danos ao setor industrial brasileiro. Dilma tem a mesma diretriz.
Mas os chineses, inclusive seu governo, mantêm seu plano de criação de empregos via ampliação do setor industrial exportador. E, mesmo com muita hospitalidade, não estão interessados em ceder. E não têm nada a negociar conosco sobre esse assunto, uma vez que já compram do Brasil os produtos (commodities) e as quantidades que lhes interessam para suprir sua população e sua indústria.
No que está muito correto do ponto de vista deles, o governo chinês olha os interesses de sua população e segue rigidamente o excelente plano traçado há mais de 30 anos para criar milhões de empregos. Para isso, mantém sua moeda subvalorizada, concede incentivos aos exportadores, conserva os sindicatos sob seu controle, não dá nenhuma importância à preservação do meio ambiente. E também não se importa com as reclamações de governantes de outros países. Estão muito corretos em governar para a melhoria da qualidade de vida de sua população. E, nisso, têm tido muito sucesso. Aplicando essa política, chegaram à segunda economia do mundo, e, repito, logo serão a primeira.
O governo brasileiro deveria fazer o mesmo. Olhar pela população brasileira, pela indústria brasileira, pela criação de empregos no Brasil.
Aqui fica uma pergunta à presidente Dilma: o que ela espera de resultados concretos dessa viagem? Tenha a certeza de que toda sua comitiva será muito bem recebida pelos chineses, porém é preciso agir firmemente para obter resultados concretos contra esse grave problema da indústria brasileira: o comércio desleal nas exportações chinesas ao Brasil.

UM DOS FUNDADORES DA COMISSÃO DE DEFESA DA INDÚSTRIA NACIONAL (CDIB), É DIRETOR DA SUPERGAUSS PRODUTOS MAGNÉTICOS

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