A gana de crescimento da China
País está determinado a alcançar superioridade tecnológica de qualquer maneira
JOHN GAPPER - DO "FINANCIAL TIMES" (17.12.2010)
Viajar em um dos novos trens chineses de alta velocidade, como fiz recentemente, é experimentar o rápido avanço industrial da China.
Fomos de Nanjing a Xangai a uma velocidade com a qual o serviço da Amtrak entre Nova York e Washington pode apenas sonhar.
Caso a CSR Corporation, a companhia chinesa que construiu o trem, consiga o que pretende, os Estados Unidos poderão experimentar essa tecnologia na próxima década.
A CSR fechou acordo com a General Electric para que participem juntas, em competição com Siemens e Alstom, da concorrência para a criação de serviços ferroviários de alta velocidade na Flórida e na Califórnia.
À primeira vista, o trem de alta velocidade serve como símbolo da transição pretendida pela China, de polo fabril para economia inovadora e de alta capacitação.
O trem também serve como símbolo de outra coisa: a determinação de obter superioridade tecnológica de qualquer maneira, o que inclui tomar tecnologia ocidental e alterá-la o mínimo necessário para poder alegar que foi desenvolvida no país.
O uso dessa estratégia pela CSR causou irritação à sua antiga sócia, a Kawasaki Heavy Industries, fabricante dos trens-bala japoneses.
EXIGÊNCIA
Empresas ocidentais precisam revelar detalhes de suas tecnologias se desejam obter contratos, e depois se veem forçadas a concorrer com estatais chinesas.
Isso vem abalando a antiga fé das companhias ocidentais em que seriam necessárias décadas para que a China as alcançasse.
Nada disso é acidental. A China quer se tornar economia avançada e usa seu poder de mercado para tomar um atalho, ao "digerir" a propriedade intelectual alheia.
É difícil sentir raiva da China por estar vivendo uma fase de fiscalização pouco intensa das leis de propriedade intelectual quando tantos outros países, entre os quais os Estados Unidos, fizeram o mesmo um dia.
Mas existe uma diferença entre pirataria informal, que o governo chinês reconhece como problema e tenta reprimir, e a absorção de tecnologias com aprovação estatal.
A primeira questão envolve um setor privado agindo com exuberância descontrolada, e a segunda é um esforço oficial para permitir que o país pule um estágio de desenvolvimento industrial.
MICROINOVAÇÃO
Caso a China esteja tentando se iludir e acreditar que "microinovação" e "renovação inovadora" são tão boas quanto inovação real, correrá o risco de não realizar seu sonho de se tornar uma economia avançada.
Thomas Howell, advogado especialista em questões de comércio internacional no escritório de advocacia Dewey & LeBoeuf, diz que os Estados Unidos poderiam contestar a China por meio da Organização Mundial de Comércio (OMC), mas que mudanças são mais prováveis caso os chineses percebam que suas práticas atuais os prejudicam.
"Há um limite ao crescimento quando a inovação de um país vem de fora", disse.
Até o momento, a China não parece estar recebendo essa mensagem.
É difícil resistir isoladamente quando a China exerce controle sobre as aquisições da segunda maior economia do planeta e sobre o maior mercado mundial para infraestrutura.
E os chineses são mestres em esmagar dissidências e oferecer recompensas aos que cooperem.
Mas, a menos que as empresas ocidentais decidam resistir em conjunto, com apoio das empresas privadas chinesas, as autoridades da China não terão problemas em continuar usando a tática do dividir para governar.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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