Thursday, July 29, 2010

Relacoes economico-comerciais Brasil-China - Marcos Caramuru de Paiva

Ainda desconhecido por chineses, Brasil vira oportunidade além do comércio
Marcos Caramuru
Folha de S. Paulo, 28.07.2010

O Brasil passou a ser visto na China como um país de oportunidades para investimentos, não só comércio.
Há quatro explicações. A primeira é a percepção de que, no vácuo da crise, as economias maduras passarão por um longo período de incerteza. A China precisa abrir o leque de parceiros.
A segunda vem do acrônimo Bric. Sem conhecer bem a nossa realidade, os empresários chineses nos veem como membros de um grupo que terá peso crescente. Percepção é tudo em suas decisões.
Eles não costumam valer-se de consultoria, nem se fiam em análises complexas sobre o local onde atuarão.
Em geral, têm dificuldades de entender as peculiaridades de uma economia de renda média como a nossa. Mas, se antes desanimavam, agora querem vencer obstáculos. A terceira razão é estratégica. A China precisa garantir o suprimento de bens que o Brasil tem em abundância, e considera não só comprar fazendas e minas mas investir em logística e infraestrutura.
Por fim, num país onde a taxa de poupança é da ordem de 50% do PIB, há mais recursos que projetos -ainda que as obras sejam muitas.
Os bancos e os fundos de investimentos estão sempre à caça de opções. Muitos poupadores desencantados com a poupança e as Bolsas querem alternativas.
O negócio Brasil passou a ser tão bem avaliado que grandes bancos estrangeiros estão fazendo esforço para mostrar que conhecem a nossa realidade e são os intermediários para ela. Alguns abriram mesas de operações em Xangai apenas para o Brasil.
Como até hoje só dois bancos brasileiros estão na China continental, com presença discreta, instituições estrangeiras com filiais ou subsidiárias nos mercados chinês e brasileiro simultaneamente aproveitam a deixa.
Nas próximas duas décadas, a China será uma economia industrial cada vez mais sofisticada e competitiva devido, sobretudo, ao fácil acesso a financiamento, à boa infraestrutura e ao esforço empresarial em inovação.
Os salários, ainda baixos em muitos locais, estão aumentando, e o yuan, no médio prazo, deve apreciar. As empresas brasileiras que souberem montar parcerias interessantes para operar na China, no Brasil e em terceiros mercados vão ganhar.
O mercado chinês seguirá tendo liquidez abundante.
Um país como o Brasil, que precisa de recursos externos para crescer a taxas altas, vai se beneficiar disso. O primeiro passo está dado, com acordos de cooperação como os do BB, Itaú, BNDES e Petrobras. Mas há mais adiante.
Exceto por atores grandes e politicamente fortes, as instituições chinesas autorizadas a investir no exterior ainda estão amadurecendo.
Se soubermos mostrar as oportunidades que nossas empresas oferecem, estaremos no caminho certo.

MARCOS CARAMURU DE PAIVA é cônsul-geral do Brasil em Xangai.

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