Provavelmente já formada. O que as autoridades estão tentando fazer, agora, é justamente desermá-la.
Esvaziando a bolha da China
9 de abril de 2010
Ano passado, autoridades chinesas impressionaram os líderes ocidentais ao reverter a taxa de crescimento da China com programas de estímulo planejados para aumentar o investimento doméstico. No entanto, o enorme estímulo monetário da China levou a uma onda nos empréstimos bancários e rápida ascensão dos preços dos ativos, funcionários públicos em Beijing vêem necessidade de tomar as rédeas do fenômeno. A perspectiva de uma desaceleração chinesa — ou, pior ainda, uma total falência — está por sua vez criando receios de que a recuperação econômica global não seja, na verdade, economicamente sustentável.
As opiniões estão divididas sobre como interpretar os últimos desdobramentos da China. Como noticiado no Financial Times:
"Enquanto alguns entendem que a China fez, com vistas ao futuro, investimentos em infraestrutura e planejamento urbano que estabelecerão os alicerces de um novo rompante de crescimento, outros receiam que a recuperação do ano passado seja realmente um milagre baseado em uma bolha de investimento. Também é uma questão crucial para a frágil economia global. Se a recuperação da China fracassasse, poderia facilmente arrastar consigo o resto o mundo em uma recessão em W."
Entre os mais pessimistas está Jim Chanos, um administrador de fundos de hedge que fez uma célebre previsão do colapso da Enron. Chanos acha que as autoridades chinesas criaram "uma bolha sem precedentes". A China tem todos os sintomas de uma bolha de investimento. O investimento como percentual do PDB está se aproximando dos 50%, e em algumas cidades os preços do mercado imobiliário aumentaram em mais que 200% em um ano.
Segundo o Standard Chartered, um banco internacional sediado no Reino Unido, o preço médio da terra na China aumentou em 106% no último ano — incluindo aumentos de mais que 200% em Xangai, quase 400% em Guangzhou e 876% em Wenzhou, razão pela qual o banco acredita que o programa de estímulo chinês criou uma bolha, especialmente nas grandes cidades.
Outros lugares, tais como a recém-construída cidade de Chenggong, são completamente desertos, com ruas estéreis e vazias, como símbolo de uma explosão de investimento que não deu certo.
Há alguns sinistros paralelos com relatos anteriores de explosões nos investimentos e no mercado imobiliário em outros países do Extremo Oriente. Uma análise recente Financial Times comenta que "há algo sem precedentes na explosão de investimento da China. Mesmo antes da onda do último ano (...) a razão de investimento para PDB da China era a mesma da Tailândia na véspera da crise financeira asiática dos anos 1997-98, ou o Japão no pico da fase de alto investimento nos anos 1960."
Essas comparações históricas levaram vários investidores e comentaristas a crer que a China esteja em face de uma quebra iminente em algum momento deste ano. Em um relatório recente, o fundo de hedge Pivot Capital Management avisa que "ciclos e crescimento orientados a investimentos tendem a errar o alvo e terminar de formas destrutivas", e que "as chances de um pouso forçado estão aumentando."
Se isso acontecer, a economia mundial poderia passar por uma recessão, e, no pior caso, poderia até, segundo Pivot, acabar sendo "um marco d'águas para os mercados mundiais como a reversão da explosão de subprime nos Estados Unidos."
Jim Chanos é ainda mais pessimista, dizendo que a China é "Dubai, 1000 vezes pior", achando que o desastre imobiliário do último ano sacudindo os mercados no mundo todo. Fora as aparentes semelhanças com o pequeno emirado árabe, tais como o megalomaníaco projeto de obra chinês apropriadamente intitulado O Mundo, o fato mais alarmante sobre a China no último ano foi a rápida expansão do crédito. Isso é particularmente preocupante, porque, como nota Chanos: "As bolhas são melhor identificadas como excessos de crédito, e não excessos de valorização. E não há maior excesso de crédito do que na China."
O afrouxamento do crédito foi parte do programa chinês, mas agora está aparentemente saindo de controle, motivo pelo qual as autoridades chinesas estão colocando ordem nos bancos para tomar as rédeas da explosão de empréstimos. Mas esse é um difícil ato de equilíbrio. Se eles apertarem muito rápido, poderiam deflagrar uma quebra total, como aconteceu nos Estados Unidos depois de 2006, quando as altas nas taxas de juros eventualmente estouraram a bolha subprime. Se apertarem muito devagar, a expansão de crédito poderiam continuar por algum tempo, o que asseguraria uma continuação dos maus investimentos e tornaria a queda potencial e as correções necessárias ainda mais graves.
O instrumento preferido pelo governo para apertar a política monetária é ajustar para cima os requerimentos de reserva para os bancos, dessa forma contraindo lentamente o crédito. Quanto mais altas as razões de reserva, menos os bancos podem emprestas, o que vai esfriar o passo da expansão de crédito. As autoridades chinesas devem conhecer esse tipo de manobra, que já foi usada em várias ocasiões. As autoridades monetárias americanas tentaram aumentar as reservas bancárias nos anos 1930, que levou a uma segunda quefa e uma nova, gravíssima "depressão dentro da depressão" em 1937-38. As autoridades chinesas parecem ter aprendido algo com a história, no entanto. Enquanto o Federal Reserve em 1936 apertaram a política em um grade passo, dobrando os requerimentos de reserva do dia para a noite, as autoridades chinesas monetáras estão arrochando em passos sucessivos, esperando com isso esvaziar aos poucos o balão de crédito.
O experimento de estímulo monetário da China deve ser um lembrete dos perigos das bolhas de ativos e crédito. O The Financial Times escreve:
"Se há uma ideia importante que se deve tirar dessa crise financeira, é que as autoridades moneárias devem tentar prever bolhas de preço, especialmente em propriedade. A China agora é um caso de testes para essa teoria, dadas as fortes indicações de que o mercado de propriedades está entrando no terreno das bolhas."
Os últimos desdobramentos na China, e em outros lugares, devem nos deixar mais cautelosos quanto aos potenciais problemas de programas de estímulos. Os governos parecem achar que o aumento da dívida e do mau investimento durante explosões de crédito são curados por mais dívida e mau investimento na recessão que se segue. Isso não é solução real para os nossos males econômicos. O que é necessário para recuperar o crescimento econômico mundial sustentável no longo prazo é exatamente o oposto: aperto no dinheiro para evitar bolhas de crédito e ativos, políticas fiscais prudentes para evitar setores públicos inchados, que só tiram o lugar dos investimentos e da atividade econômica privados, e uma economia global mais balanceada, na qual os Estados Unidos poupem mais e a China coloque rédeas na sua explosão de investimento.
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