Risco de superaquecimento na China
Chen Xingdong
Valor Econômico, 4.03.2010
A maior parte das instituições financeiras foi pessimista ao projetar o crescimento econômico da China no início de 2009. Muitos viam o país como uma economia orientada para a exportação. O impacto da recessão mundial não seria compensado pelo estímulo à demanda doméstica e o crescimento do PIB chinês seria menor que 5%.
Em contraste, mantivemos uma visão mais positiva para 2009. Em nossa opinião, a China se dissociaria da recessão mundial por causa do grande potencial da demanda doméstica e execução eficaz das políticas governamentais. Nossa previsão para 2009 era: no cenário pessimista 6,3%; no cenário base, 7,7%; no otimista, 8,4%.
O crescimento maior do que o previsto pode ser atribuído em grande parte a estímulos sem precedentes: 4 trilhões de renmimbis em programas de investimentos (US$ 600 bilhões ou 12% do PIB), 950 bilhões de renmimbis (US$ 140 bilhões ou 3% do PIB) de déficits orçamentais, e 10,5 trilhões de renmimbis (US$ 1,5 trilhões ou 31% do PIB) em novos empréstimos.
Essa política de estímulos teve impacto relevante na economia real. Uma vez iniciada, levará algum tempo para se retirar tal estímulo. Portanto, esperamos que o crescimento da China acelere em 2010 e atinja, no cenário pessimista, 9,6%; no cenário base, 10,5%; no cenário otimista, 11,5%. O racional para uma projeção mais alta está no forte investimento e na retomada das exportações.
O investimento tem sido chave para o crescimento do PIB da China. O investimento em ativos fixos subiu 30% em 2009, 4,6 ponto percentual maior do que em 2008. A proporção investimento/PIB aumentou para 67% estimado para 2009, contra 55% um ano atrás.
Em outubro passado enviamos um alerta de que os investimentos na China estavam superaquecidos. Esse superaquecimento deve piorar devido à intensificação das construções de habitações públicas, aceleração do crescimento nos oito estados aprovados pelo conselho para regiões de desenvolvimento econômico e pela promoção de negócios privados. Tudo isso sob a forte motivação política do 18º congresso do partido em 2012.
Apesar de esperarmos uma possível deterioração econômica com importantes parceiros comerciais, devemos ver uma melhora significativa na balança comercial de China. Segundo as estatísticas preliminares, exportações caíram 16% em 2009. O dinheiro fornecido pelos novos empréstimos não foi totalmente absorvido pela economia real, gerando um excesso de liquidez.
O resultado foi uma inflação de ativos. As vendas no mercado imobiliário cresceram 43% em metros quadrados e 80% em valor, o que implica o aumento de 26% no preço por unidade em 2009. Da mesma forma, o mercado de ações-A na China subiu mais de 80%.
Acreditamos que há grande chance da inflação ultrapassar a zona de conforto do governo (entre 3% e 5% ao ano). Há seis fatores a serem considerados: inércia, liquidez excessiva, a oferta de produtos agrícolas, inflação de custo, preços subindo em produtos administrados e inflação importada.
A inércia é baseada na inflação nos últimos 12 meses refletindo na inflação dos próximos 12 meses. Isoladamente, a inércia poderia empurrar o IPC e o IPP a um aumento de 1,2% e 2,9% ao ano, respectivamente. Além disso, a liquidez é condição necessária para inflação. Há uma estreita relação entre inflação e oferta de moeda. A inflação irá atingir seu pico em meados do ano. Os alimentos respondem por 33% da cesta do IPC. E esse item está sempre em alta quando esses três fatores se encontram: escassez de alimentos, alto crescimento na oferta de moeda e superaquecimento econômico.
A inflação de custo ocorre quando a economia está aquecida em meio à ampla liquidez. Recentemente, quando o preço de alguns elementos alimentícios foi elevado, a explicação recaiu sobre o aumento de custos. O aumento da pressão de custos será cada vez mais transferido para os bens finais.
Mais de 80% das importações da China são de bens primários, materiais de construção, insumos intermediários e bens de capital. Deste ponto de vista, os preços dos importados determinou a mudança no IPP doméstico e do IPC.
Preocupações de superaquecimento nos investimentos, agravamento da capacidade ociosa, inflação, bolha de ativos, aumento dos empréstimos e insolvência fiscal dos governos locais estão claramente aumentando. Embora ainda esteja em debate, um aperto macroeconômico já começou.
No entanto, dada a complexidade das interações econômicas atuais, optou-se por uma política de aperto gradual que pode ser escalonada no futuro. Mas não esperamos taxas de juros subindo antes do terceiro trimestre de 2010.
A pressão internacional para a valorização do renminbi aumentou. Isso seria inevitável à luz do crescimento chinês acelerando em meio ao fraco desempenho das economias do ocidente. Esperamos que a China retome a flutuação controlada a partir de meados do ano. E por causa disso, o renmimbi deve se apreciar em 3% até o final de 2010 contra o dólar.
Chen Xingdong é economista-chefe do BNP Paribas para a China.
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