Países do Bric já têm um terço das reservas mundiais
Assis Moreira, de Genebra
Valor Econômico, 28/01/2010
Os países do Bric - Brasil, Rússia, Índia e China - já detêm US$ 3 trilhões de reservas internacionais, equivalentes a um terço do total mundial, aumentando seu peso no mercado financeiro global, indica o Deutsche Bank em estudo.
Para o banco alemão, a China, com o grosso das reservas mundiais (US$ 2,4 trilhões), tende a superar o Japão como o maior credor internacional líquido dentro de alguns anos e os Estados Unidos como a maior economia do mundo por volta do ano 2025.
O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, revelou ontem que os presidentes das quatro grandes economias emergentes vão se reunir em abril no Brasil, e um dos temas centrais que vão discutir será a utilização de suas moedas nacionais no comércio entre suas empresas, em progressiva substituição ao dólar dos Estados Unidos.
O Deutsche Bank nota que, enquanto os governos do G-3 - EUA, Japão e Alemanha - lutam com déficit fiscal recorde e endividamento crescente, os governos dos Bric têm dívidas sob controle e políticas fiscais sustentáveis.
Os governos do Brasil e da Índia registram endividamento similar ao do G-3. Por sua vez, a dívida pública da China e da Rússia são muito mais baixas.
Apesar de suas amplas reservas oficiais, os ativos totais do grupo continuam pequenos comparados ao das maiores economias. Os ativos internacionais totais dos Estados Unidos (sem descontar os investimentos dos outros países nos EUA) somam US$ 20 trilhões, da Alemanha e França US$ 6 trilhões cada um. Em comparação, os ativos externos da China somam US$ 3 trilhões e os da Rússia US$ 1 trilhão, enquanto o Brasil e a Índia têm cerca de US$ 500 bilhões.
No entanto, os Bric melhoraram sua posição financeira internacional líquida além do que se previa. São ou credores internacionais líquidos ou têm débito externo negligenciável.
A China é o "primus inter pares" (primeiro entre iguais), com posição líquida de investimentos externos de US$ 1,5 trilhão, ou seja, mais ativos do que passivos externos. Só é superado pela posição líquida de US$ 2,5 trilhões do Japão e bem a frente dos US$ 900 bilhões da Alemanha. A Rússia tem "apenas" US$ 250 bilhões, enquanto Brasil e Índia têm posição negativa nesse item.
Para o Deutsche Bank, se não ocorrerem "acidentes" futuros, Pequim vai superar o Japão como o maior credor do mundo dentro de alguns anos, levando-se em conta as tendências de acumulação de ativos externos líquidos.
O superávit de contas correntes da China, mesmo menor em dólar do que em 2008, deve ser bem maior do que o superávit combinado da Alemanha, Japão, Rússia e Noruega em 2009. Representa um terço da exportação líquida de capital, comparado a um quarto em 2008. Sua posição financeira internacional continuará a melhorar rapidamente nos próximos anos.
"Não é uma surpresa que 44% dos americanos acreditem que a China é o maior poder econômico", nota o economista Markus Jaeger, autor do estudo.
Já o Brasil e a Índia continuarão a registrar déficit em contas correntes. Em todo caso, terão "papel financeiro mais importante" nos próximos anos na cena internacional, avalia o banco alemão.
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