Investidor divergente prevê crash econômico na China e suspeita de bolha imobiliária
David Barboza - Xangai
New York Times (FSP), 08/01/2010
James S. Chanos construiu uma das maiores fortunas em Wall Street prevendo o colapso da Enron e de outras empresas altamente valorizadas, cujas histórias eram boas demais para ser verdade.
Agora Chanos, um rico investidor de fundo hedge, está trabalhando para acabar com o mito do maior conglomerado de todos: a China.
Homem em frente a cartaz que mostra a bandeira da China e algumas moedas, durante feira de tecnologia do setor bancário e financeiro, em Pequim. Segundo o mega investidor James S. Chanos, o gigante asiático está próximo de um colapso econômico como o dos Estados Unidos, impulsionado pelo setor imobiliário
Enquanto grande parte do mundo aposta na China para ajudar a tirar a economia global da recessão, Chanos está alertando que a economia hiperestimulada da China está seguindo para um crash, em vez do boom sustentado que a maioria dos economistas prevê. Seu setor imobiliário em ascensão, sustentado pela enxurrada de capital especulativo, parece "Dubai vezes 1.000 -ou pior", irrita-se ele. Chanos suspeita até que Pequim esteja manipulando os livros, fingindo, entre outras coisas, suas taxas de crescimento espantosas de mais de 8%.
"As bolhas são melhor identificadas pelos excessos de crédito, não pelos excessos de valorização", ele disse em uma recente aparição na "CNBC". "E não existe maior excesso de crédito do que na China." Ele está planejando um discurso para o final deste mês, na Universidade de Oxford, para disseminar seu argumento.
Como um proeminente short-seller (vendedor de valores a descoberto) americano -o investidor aposta dinheiro alto no fracasso das estratégias das empresas- a narrativa de Chanos contraria o pensamento predominante em relação à China. A maioria dos economistas e governos espera que o crescimento chinês continue neste ano, sustentado pelo restante de um programa de estímulo do governo de US$ 586 bilhões, iniciado no ano passado e que visa estimular as exportações e o consumo entre os chineses.
Ainda assim, apostar contra a China não será fácil. Como os estrangeiros enfrentam restrições para investir em ações listadas dentro da China, Chanos disse estar buscando outras formas de fazer suas apostas, incluindo se concentrar em empresas ligadas à construção e infraestrutura, que vendem cimento, carvão, aço e minério de ferro.
Chanos, 51 anos, cujo fundo hedge, o Kynikos Associates, com sede em Nova York, administra US$ 6 bilhões, não é o único cético em relação à China. Mas é certamente o mais proeminente e mais ruidoso.
Apesar de todo seu retrospecto de presciência -além de prever o fim da Enron, ele também percebeu os problemas da Tyco International, da rede de restaurantes Boston Market e, mais recentemente, das construtoras de imóveis residenciais e de alguns dos maiores bancos do mundo- seus detratores dizem que ele sabe pouco ou nada a respeito da China ou de sua economia, de forma que seus alertas devem ser ignorados.
Funcionário do banco conta cédulas de Yuan, moeda oficial da China. Nos últimos meses, um crescente número de analistas, e algumas autoridades chinesas, também têm alertado sobre a ameaça do surgimento de bolhas de ativos no país asiático
"Eu considero interessante que pessoas que nem sabiam soletrar China há 10 anos agora são especialistas em China", disse Jim Rogers, que co-fundou o Fundo Quantum com George Soros e atualmente vive em Cingapura. "A China não está em uma bolha."
Os colegas reconhecem que Chanos começou a estudar a economia da China apenas em meados do ano passado e enviou e-mails pedindo a opinião de especialistas.
Mas ele está acompanhado daqueles que veem uma crescente evidência de que o pacote de estímulo da China e os empréstimos bancários agressivos estão criando uma demanda artificial, aumentando o risco de uma onda de empréstimos inadimplentes.
"Na China, ele parece enxergar os excessos nos quais tem apostado contra ao longo de todas estas décadas", disse Jim Grant, um velho amigo e editor da "Grant's Interest Rate Observer", que também prevê uma queda da China. "Ele se concentra nos excessos dos mercados e lucra com eles. Esse é o seu talento e ofício."
Chanos se recusou a ser entrevistado, citando sua contínua pesquisa a respeito da China. Mas ele já está espalhando a visão de que o milagre chinês está cegando os investidores para o risco de que o país está produzindo demais.
"Os chineses correm o risco de produzirem grandes quantidades de bens e produtos que serão incapazes de vender", ele alertou em uma entrevista para a Politico.com, em novembro.
Em dezembro, ele apareceu na "CNBC" para discutir como começou a assumir posições vendidas, na esperança de lucrar com o colapso da China.
Nos últimos meses, um crescente número de analistas, e algumas autoridades chinesas, também têm alertado sobre a ameaça do surgimento de bolhas de ativos na China.
O imenso programa de estímulo do país e o empréstimo bancário recorde, cuja estimativa é de ter dobrado no ano passado em relação a 2008, injetou bilhões de dólares na economia, retomando o crescimento.
Mas muitos analistas agora dizem que o dinheiro, juntamente com o imenso afluxo de "capital especulativo", foi canalizado para os mercados de ação e imobiliário.
O resultado, eles dizem, tem sido alta de preços e uma retomada do boom de construção que estava em andamento no início de 2008 -um que Chanos e outros chamaram de perdulário e exagerado.
"Ocorrerá um colapso", disse Gordon G. Chang, cujo livro, "The Coming Collapse of China" (Random House), alertou sobre esse crash em 2001.
Amigos e colegas dizem que Chanos está à vontade apostando contra a maioria -mesmo quando essa maioria inclui pessoas como Warren E. Buffett e Wilbur L. Ross Jr., duas figuras imponentes do mundo do investimento.
Um divergente por natureza, Chanos pesquisa as empresas, analisa meticulosamente os relatórios públicos de prestação de contas em busca de pistas de contabilidade fraudulenta ou enganosa e então decide se uma ação está sobrevalorizada e pronta para cair. Ele conta com um quadro de 26 funcionários em escritórios em Nova York e Londres, em busca de outras informações relacionadas à China.
"O retrospecto dele é impressionante", disse Byron R. Wien, vice-presidente da Blackstone Advisory Services. "Ele não é um charlatão. E sou uma pessoa que espera alta na China."
Chanos cresceu em Milwaukee, um dos três filhos dos proprietários de uma rede de lavanderias. Em Yale, ele estudou medicina antes de trocá-la por economia, devido ao que descreveu como um interesse apaixonado pela forma como os mercados operam.
Sua filosofia-guia foi descoberta em um livro chamado "The Contrarian Investor", segundo um relato de sua vida em "The Smartest Guys in the Room", um livro que narrou a ascenção e queda da Enron.
Após a faculdade, ele foi para Wall Street, onde trabalhou em uma série de corretoras até abrir sua própria firma, em 1985, devido ao que disse posteriormente ser sua frustração com a forma como os corretores de Wall Street promoviam as ações.
Na Kynikos Associates, ele criou uma firma voltada a apostar na queda dos preços das ações. Suas teorias são resumidas no depoimento que deu ao Comitê de Energia e Comércio da Câmara, em 2002, após o colapso da Enron. Sua firma, ele disse, procura por empresas que parecem exagerar seus lucros, como a Enron; que são vítimas de um plano de negócios falho, como muitas empresas de Internet; ou que praticam "fraude descarada".
O fato de short-sellers serem mal-vistos por alguns em Wall Street, assim como na economia em geral, há muito o incomoda.
Os short-sellers foram acusados de terem intensificado as vendas de ações no final de 2008, antes da prática ter sido temporariamente proibida. Os reguladores agora estão tentando decidir se restringem a prática.
Chanos frequentemente responde aos críticos do short-selling apontando o papel crítico que os short-sellers exerceram na identificação dos problemas na Enron, Boston Market e outros "desastres financeiros" ao longo dos anos.
"Eles frequentemente são aqueles que usam chapéus brancos quando se trata de procurar e identificar os bandidos", ele disse.
Tradução: George El Khouri Andolfato
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